O MEL DO ROCK

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

ROCK PROGRESSIVO: A influência da audição, no desenvolvimento dos estudo da Guitarra Elétrica


Silas Azevedo Ribeiro*

Resumo: A partir de uma observação sobre o preconceito existente entre os alunos de guitarra elétrica em relação a estilos diferentes, consideramos a necessidade de definir propostas mais inteligentes para uma boa apreciação musical. Propostas que desperte cada vez mais a percepção, a fim de oportunizar aos estudantes, a chave para a apreciação de outros estilos. Esclarecer sobre a melhor maneira de escutar os vários elementos encontrados nas músicas, para consequentemente melhorar o desempenho dos alunos em seus instrumentos. Esse artigo levanta delinear de forma simples e clara os elementos básicos da música: ritmo, melodia, harmonia; a importância da bagagem musical, da escolha do repertório e do refinamento técnico para uma boa performance. Com o propósito de dar a possibilidade ao estudante de ouvir de uma maneira mais completa e inteligente rock progressivo. Isso permitirá que ele possa diferenciar quando a música é bem trabalhada, com uma boa estrutura, ou não. E pode levá-lo a desenvolver aptidão na carreira docente, criar mais habilidades para entender o grau do virtuosismo das músicas, para futuramente poder reproduzir. Conseqüência do desenvolvimento da bagagem musical, que ocorre bem lentamente com o decorrer do tempo. E o principal, que é a associação com o refinamento técnico.

1. INTRODUÇÃO

A escolha desse tema nos permite discutir questões relativas ao aumento da qualidade do ensino instrumental, através de associações às maneiras mais proveitosas de escutar música1. Transcender às imposições de seguidos desafios técnicos, a fim de um resultado mais consciente e eficiente. Uma das intenções desse artigo é de solucionar, em parte, a deficiência auditiva que a maioria dos alunos apresenta nas aulas de guitarra, conduzindo-os ao desenvolvimento de uma audição mais completa e inteligente. E deste modo, auxilia-los a trilhar por um caminho mais seguro para a musicalização2. Outro objetivo é o de Proporcionar maiores oportunidades para tomada de decisão criativa, a exploração musical expressiva, o refinamento estilístico e a realização estética.

É extremamente essencial encontrar o equilíbrio entre o desenvolver da técnica e da musicalidade dentro de um repertório, por isso à implicação da escolha do repertório incluindo o rock progressivo, para a evolução musical dos alunos. Essa vertente do rock tende a enfatizar o desenvolvimento de habilidades técnicas da música clássica e da música popular. Além de ser uma música híbrida, com heranças culturais brancas e negras, é possuidor de mais riquezas sonoras e técnicas para serem explorados ao longo dos estudos e causa muito interesse na maioria dos jovens alunos de guitarra.

Avaliando a complexidade do repertório do rock progressivo, foi indispensável estabelecer uma metodologia de escuta. Neste sentido, entre outros livros analisados, o trabalho de Aaron Copland, Como Ouvir e Entender música (Copland, 1974), apresentou-se como uma referência mais completa e eficiente. O seu livro é uma espécie de guia que aponta vários procedimentos mais inteligentes para uma boa apreciação musical. Um livro destinado não só para leigos, mas para todos que desejam obter um entendimento maior sobre a verdadeira compreensão da música. A diferença está na maneira de escutar, e essa é a intenção, o objetivo do projeto, justamente prepará-lo para melhor compreender o rock progressivo.

­­1Reconhecer uma melodia ao ouvi-la, ser capaz de relacionar o que esta ouvindo em um determinado momento com o que aconteceu antes e com o que está para vir. Distinguir os timbres dos instrumentos, os vários tipos de elementos etc. Vide pág. 12 – 27 (Copland, 1974).

2Segundo Copland não implica ir ao cinema e depois tocar todas as melodias do filme, nem possuir o ouvido absoluto pode ser prova de musicalidade. Muitos pianistas passam a vida executando grandes obras e apesar disso têm uma compreensão bastante pobre da música.

2. A INFLUÊNCIA QUE EXERCE O ROCK PROGRESSIVO

O rock progressivo, também conhecido como rock sinfônico, é um rock intelectualizado, que mudou totalmente a concepção das músicas, a partir da metade da década de sessenta, causando um impacto fascinante em seus ouvintes. Os músicos adeptos desse novo estilo incorporaram efeitos eletrônicos e instrumentos orientais. Nascem muitas letras (vinda de verdadeiros poetas) que falam de alucinações, sonhos coloridos, aventuras sexuais, mundo encantado, etc. Os álbuns apresentam tema ou história nos quais são explorados ao longo do disco. Através de entrevistas a vários professores de guitarra, foi constatado que a maioria dos alunos adolescentes procuram aulas particulares de guitarra interessados em aprender a tocar rock’n roll. Devido ao gosto imposto pela mídia, o modismo.

Esse termo progressivo surgiu ainda na década de sessenta, com o objetivo de designar um "desenvolvimento progressivo do Rock". Ou seja, em busca do progresso, se distanciando muitas vezes dos preceitos básicos do Rock.

Através do contato com os álbuns de bandas sinfônicas, produzidos a partir da década de sessenta, identificam-se características principalmente da música clássica, do jazz, do blues, rhythm and blues, country em contraste com o rock americano. Na verdade, esse estilo combina o sentido de espaço e a monumentalidade da música clássica com a energia e o poder do Rock, com uma nova profundidade e sofisticação. Um som tão ortodoxo quanto significativo, sendo associado a um grande movimento de vanguarda e contracultura. Ele tem mais elementos, mais riquezas para acrescentar na bagagem musical dos alunos, pois apresenta características acadêmicas também encontradas na música clássica.

“Até 1966 ou 1967 o rock inglês não difere muito em concepção do norte americano. É aquele famoso quatro por quatro, marcado por acompanhamento de baixo elétrico, guitarra e bateria...”. (MONTANARI, 1993, p. 65).

Mas o rock progressivo vai além das loucuras, experimentações, dos psicodélicos espetáculos. Alguns esclarecimentos sobre o que significa ser musical, e sobre procedimentos simples associados à forma de escutar música podem ser essenciais para se obter uma boa compreensão do que realmente está acontecendo na música. É principalmente através das audições que será formada a bagagem musical, que é matéria-prima da criação. Esta procede e três etapas: a imitação – método Suzuki; a improvização; e por ultimo a criação.

3. BAGAGEM MUSICAL – A MATÉRIA PRIMA DA CRIAÇÃO

Numa entrevista dada à revista Guitar Player, o guitarrista Scott Henderson afirma que as pessoas são aquilo que ouvem (música). Ele se referenciava a essa tão citada bagagem musical, pois o desenvolvimento do estudo dependera muito dela. A necessidade de ouvir frases, acordes de outras pessoas, se dá porque através do acumulo de influências é que o aluno, um dia, desenvolverá seu estilo próprio. E como diz Henderson isso depende do que se ouve. O problema é que todos têm a oportunidade de não entender a música em questão, como afirma Copland.

De acordo com Fred N. Kerlinger (p.1): “Há muito se sabe que a maioria das pessoas são más observadoras até dos fenômenos mais simples”. É por isso que grande parte dos alunos, no início das aulas, não consegue ouvir certos tipos de música, criando preconceitos, pois não possui ainda habilidades para compreendê-la, devido a sua grande complexidade.

Falret, o pai da teoria psicógena da alucinação, faz a seguinte explanação: “a memória entra primeiro em ação, fornecendo os materiais; a imaginação dá-lhes colorido enfim, as recordações transformam-se em imagem, e estas são projetadas sobre o mundo exterior”. (GÁRCIA, 1973, p. 82).

Mas que fique bem claro que a inspiração é fornecida pela memória e a imaginação ajuda a completá-la, porém, a fonte de energia principal da inspiração é o estudo, o conhecimento, a experiência, a técnica que só se adquire com muita disciplina, muita prática. Essa parte permanece oculta na música. Mas sem ela a inspiração se torna impossível. Visto que é fruto de um trabalho e não de uma força vinda do além, como pensam as pessoas não musicalizadas3.

As artes e a literatura são puros exercícios de imaginação, quem inventa, combina formas, cores, sons, idéias, sentimentos, que se animam, que se adornam de significados morais. A verdadeira obra de arte é, pois, pura associação de idéias ou de imagens, e a sua legitimidade se traduzem em inteligibilidade. A criação, a invenção artística ou cientifica não se fazem ex-nihilo; os seus elementos são fornecidos pela memória, pela experiência. Quando o móvel e parte das operações se passam inconscientemente para o artista ou inventos, tem-se a inspiração. (GARCÍA, 1973, p. 105).

3Carentes de suficiente formação prático-teórica tanto no conteúdo quanto na área pedagógica, os professores de musica passaram a conceber o ensino como algo em que imperasse o espontaneísmo, o improviso e a ausência de objetivos definidos. Eliminam-se o método e o processo construtivo do estudo e do trabalho, criando-se uma visão idealista que os artistas são seres inspirados divinamente. FERNANDES, Alvanize V. Presença Pedagógica. Jul./ago. 1997. v.3 n. 16.

Educando, em parte, as faculdades analíticas pelas repetidas audições, é que uma pessoa conseguirá perceber a diferença na fisionomia rítmica de cada grupo.

Portanto, a pesquisa vem aconselhar meios adaptáveis para superar as dificuldades que se apresentam ao deparar-se com a complexidade do rock progressivo. Por conseqüência, o hábito de ouvir corretamente com o passar do tempo, trará mais aptidão para distinguir cada vez melhor os diversos elementos que o compõem. Ainda assim de forma incompleta, visto que, apenas os músicos profissionais têm a possibilidade de um completo entendimento, um verdadeiro raio-x na música.

“O conteúdo consciencial da percepção faz-se por uma combinação da vivência sensorial e da reprodução de imagens. Podemos então defini-la: a percepção é o reconhecimento complementar do objeto”. (GÁRCIA, 1973, p. 73).

4. COMO ESCUTAR OS ELEMENTOS DO ROCK PROGRESSIVO

4.1. O Ritmo4

De acordo com Copland o ritmo sempre vem, na imaginação das pessoas, associado à idéia de movimento físico. É um elemento envolvente que exerce fascínio desde os tempos mais remotos. Essa qualidade faz o chamar atenção. Porém os elementos rítmicos do rock progressivo podem assumir uma complexidade espantosa (HUDSON, 2001), muito difícil de entender e ouvir. Por isso faz-se necessário um esclarecimento, a fim de abrir os horizontes do universo rítmico. A maior parte da estrutura rítmica das músicas divide-se nos fatores metro e ritmo.

Influenciado pela música erudita, que no final do século XIX começou a quebrar a regularidade monótona das unidades métricas. No progressivo usam-se ritmos pouco comuns, métricas diferentes a cada compasso. E assim alcançando efeitos rítmicos inventivos e surpreendentes: 7/8 como muitas músicas do Rush, por exemplo; havendo mudanças de escala numa seqüência de 5/8 – 5/8 – 7/8 – 5/8 – 7/8 – 5/8 – 5/8-7/8 como é a música “Dance of eternity” do Dream Theater (HUDSON, 2001). Além disso, usa-se síncope, rítmações pouco usuais, tempos por vezes sobrepostos, e polirritmia como apresenta o início da música “Close to the Edge” dos Yes. Os efeitos rítmicos desenvolveram uma nova liberdade dentro dos limites de um mesmo compasso.

4Em geral, o ritmo designa a variação da duração de sons com o tempo. João Paulo Pinto Fidalgo N.º1021406 Universidade Lusíada de Lisboa. Licenciatura em Comunicação e Multimédia, Cadeira de Formação Musical - 2006.

Entretanto, mesmo os ritmos mais complexos foram feitos para serem apreciados, ainda que não sejam analisados. O importante é ouvir e muito a linha rítmica, para assimilar novas sensações. “Mais tarde, ouvindo com mais atenção e não resistindo de maneira alguma à pressão do ritmo, você será capaz de incorporar à sua apreciação musical as maiores complexidades do ritmo moderno...” (COPLAND, 1974, p. 45).

Aumentando a bagagem de conhecimento de ritmo, melodia, harmonia descobrir-se-á muito mais maravilhas que supunha o vão conhecimento sobre a musicalidade.

4.2. A Melodia5

Geralmente a melodia é o aspecto que a maioria das pessoas mais tende a reconhecer. Porém não podemos definir o que é uma boa melodia, sem estabelecer uma relação com as melodias que conhecemos e classificamos como boas.

A boa melodia possui uma espécie de esqueleto, uma espinha melódica. Esse esqueleto dificilmente será entendido completamente por um leigo. Porém um leigo poderá perfeitamente perceber a falta desse esqueleto. E isso também irá depender da bagagem musical de cada um (COPLAND, 1974).

Muitas frases musicais dependiam da propagação do som no ambiente, do seu desenvolvimento. Sendo, portanto, um som “artesanal”. Com muito uso dos inovadores sintetizadores e com muita qualidade expressiva, provocando uma forte resposta emocional que leva às alucinações.

As melodias como as frases da língua, dispõem muitas vezes de pontos intermediários de repouso, equivalentes às vírgulas e ao ponto e vírgula dos escritores. Esses descansos provisórios, ou cadências, como são chamados muitas vezes, tornam a linha melódica mais inteligível, dividindo-a em frases que podem ser entendidas com mais facilidade. (COPLAND, 1974, p. 47).

Na hora de ouvir a linha melódica é importante esquecer os compassos e ouvir as frases. Ela existe no âmbito das escalas: há doze escalas diatônicas no modo maior e mais doze escalas no modo menor.

Algumas melodias podem ser tocadas duas ou mais vezes na mesma música. podem ser realizados diferentes contrastes, o mais comum é tocar uma melodia.

5Dimensão horizontal ou linear da música, toda e qualquer sucessão inteligível de sons. Refere-se a uma seqüência de alturas (notas), com ritmo definido e sentido de conjunto. NESTROVSKI, Arthur – Notas Musicais. São Paulo, Publifolha, 2000.

Portanto, o compositor deve se preocupar em atingir um equilíbrio entre a repetição e o contraste, para melhor articular a composição. No rock progressivo são introduzidas muitas idéias contrastantes, para que a música tenha uma variedade de interesses. De várias maneiras completamente nova, e existem outras formas como: mudança de tonalidade, mudança de modo, ritmo, andamento, dinâmica, ambiência, textura e timbre etc.

Em seu livro Copland diz que nunca deve se permitir perder de vista a função que a melodia exerce numa determinada obra. Assim o resultado será uma percepção capaz de distinguir uma boa melodia, do que é banal e pouco inspirado.

4.3. A Harmonia6

A característica da harmonia de do rock progressivo é consonante, mas temperada com dissonâncias muito dissonante. Por vezes calma e repousante, outras vezes tensa e agitada. Açores com muitas notas. E apesar de tudo é o elemento que mais passa despercebido comparado ao ritmo e melodia. Segundo Aaron Copland: “A teoria harmônica baseia-se na suposição de que todos os acordes são construídos a partir da nota mais grave em uma série de intervalos de terça ascendentes”. Muitas bandas de rock progressivo como Yes, por exemplo, fazem uso de harmonias vocais múltiplas e vocalizações pouco usuais.

5. A ESCOLHA DO REPERTÓRIO

De acordo com Cecília Cavalieri o repertório é o ponto importantíssimo que permite aos alunos revelarem a sofisticação de seu pensamento musical de forma adequada e confortável. Cecília afirma que o aluno não conseguirá realizar uma boa performance7 em uma música cujo nível esteja mais elevado que sua compreensão musical e técnica. Por isso afirma que o ideal seja encontrar um equilíbrio da técnica e da compreensão para desenvolver a mente, abrir novos horizontes e aprofundar a vida intelectual e afetiva dos alunos, sem comprometer a essência da musicalidade. O repertório do progressivo tende a enfatizar o desenvolvimento de habilidades técnicas da música erudita e erudita popular.

6 Combinação inteligível de várias alturas soando ao mesmo tempo, dimensão vertical da música. NESTROVSKI, Arthur – Notas Musicais. São Paulo, Publifolha, 2000.

7O diferencial em uma performance para ser musicalmente expressiva é a capacidade de destacar elementos como cadências e pontos culminantes das frases, aparente em sutis microvariações (estilísticamente determinadas) de agógica, dinâmica, articulação, idiosincrática, arbitrária ou dogmática. FRANÇA, Cecília Cavalieri.

... uma competente apresentação de sua obra depende de fatores imprevisíveis e imponderáveis, que se combinam para produzir as qualidades de fidelidade e simpatia sem as quais a obra será irreconhecível em determinada ocasião, inerte em outra, e, em qualquer situação, traída... (STRAVINSKY, 1996, p. 113).

Segundo Stravinsky: “... O pecado contra o espírito da obra sempre começa com um pecado contra sua literalidade, e leva às intermináveis loucuras que uma literatura sempre florescente, do pior mau gosto, faz o possível para sancionar”.

6. A ARTE DA IMPROVISAÇÃO

O rock progressivo também pode ser caracterizado por longos solos instrumentais (HUDSON, 2001), como no gênero jazz que se obtêm melodias manipuladas inéditas de valorização de nota, mudanças de ênfase rítmica e distorções de tonalidade sobre o tema. Assim podendo conhecer melhor o seu instrumento, para conseguir conhecê-los cada vez melhor (POLLACO, 2005).

A arte da improvisação está presente na cultura musical universal, desde que se tem noticia do primeiro ruído criado pelo homem ao qual foi atribuído o nome de música, a trajetória do desenvolvimento da prática da improvisação é ocorrida no gênero popular. Nesse estilo a improvisação individual ou coletiva sugere como parte estrutural da composição.

A improvisação esta escravizada à harmonia. Não deve ser gratuita e nem brincadeira de amadores. A primeira coisa que o improvisador deve levar em conta é que há três parâmetros básicos em música, cujo conhecimento é fundamental para a prática da improvisação, são eles: harmonia, melodia e forma8.

A harmonia está representada pelas progressões de acordes sobre os quais se improvisam. As melodias relacionam-se às escalas e ferramentas melódicas utilizadas na improvisação, e a forma está presente não só na estrutura rítmica da harmonia como também na organização das partes da melodia, que compõe o todo.

Podemos concluir então, que os músicos progressivos além de terem esses conhecimentos acadêmicos da improvisação, muitos deles se destacaram pelo virtuosismo e performance em suas apresentações. Assim podemos citar alguns destaques como Bill Bruford baterista do Yes, Robert Fripp guitarrista do King Crimson, Keith Emerson tecladista do Emerson Lake and Palmer.

8 É a manifestação superior de uma idéia organizadora, de uma intervenção da inteligência contra o acaso. (Roland de Cande – Dictionnaire de Musique).

7. A DIVISÃO DO PROCESSO DE AUDIÇÃO9

Aaron Copland divide o processo de audição em três componentes:

1-PLANO SENSÍVEL

Ouvir sem pensar, muitas vezes para esquecer-se de si mesmos, como consolação ou subterfúgio, a fim de fugir da realidade e não pensar em nada, muito menos em música. Este plano é importante, porém como diz Copland é só uma parte da história. “Existe, entretanto, a possibilidade de nos tornarmos sensíveis aos vários tipos de matéria sonora usados pelos vários compositores...” (COPLAND, 1974, p. 23).

2-PLANO EXPRESSIVO

Escondido por traz das notas, toda música têm seu significado expressivo, mas cada pessoa lhe atribui diferentes significados, de acordo com as habilidades de cada um. E explicar isso de maneira clara e satisfatória para todos é praticamente impossível. Em momentos diferentes ela expressa sentimentos diferentes. “O que é importante é que cada um sinta por si mesmo a qualidade expressiva que caracterizam um tema [...] e se sê trata de uma grande obra de arte, não espere que ela lhe diga sempre a mesma coisa em audições sucessivas.” (COPLAND, 1974, p. 25).

3- PLANO PURAMENTE MUSICAL

A maioria dos alunos chega com deficiência nesse plano. É a música existir pela manipulação de suas notas. “O ouvinte inteligente deve estar preparado para aumentar a sua percepção do material musical e do que acontece a ele. Deve ouvir as melodias, os ritmos, a harmonia, o colorido tonal, de uma maneira mais consciente”. (COPLAND, 1974, p. 26). Combinando os elementos, ouvindo-os ao mesmo tempo. Até se tornar instintivo.

O esclarecimento desses itens faz-se indispensável porque esse é o caminho mais próximo para uma melhor compreensão. De forma que mesmo o ouvinte leigo, fique ciente do que realmente está acontecendo na música, com o máximo de resultado e sem que elementos importantes passem despercebidos. Isso facilitará o estudo da música. As músicas bem ouvidas serão lembradas na hora da execução; As escalas, e os acordes estudados serão cada vez mais identificados.

Os adolescentes são preconceituosos, então incentivá-los a conhecer e desvendar o rock progressivo é uma maneira, talvez a mais simples, para um estudo mais prazeroso e gratificante. O rock progressivo é a chave para a apreciação de outros estilos. Ao escutá-lo logo vem a concepção de uma vasta influência, e perceberam que é só o começo do imenso universo musical.

9 Esse método de escuta foi estabelecido por Copland a fim de tornar mais claro o processo completo da audição.

8. O ROCK PROGRESSIVO BRASILEIRO

A produção nacional de rock progressivo no Brasil foi tardia, somente no final da década de 50 e na época chamava-se iê-iê-iê, se calcava em versões em português para sucessos ingleses, italianos e americanos. Porém o iê-iê-iê começou a aparecer nas paradas de sucesso na segunda fase, recebendo o nome de Jovem Guarda. Deve todo o sucesso ao poder manipulador do programa de televisão. Senão, não passaria de um simples modismo passageiro. Eram considerados “rebeldes”, eram muito mais comportados do que sua contrapartida estadunidense. Como as primeiras gerações do rock estrangeiro, suas letras eram referidas ao amor romântico, mas com mais ou menos dez anos de atraso. Trazia a guitarra elétrica porem com pouca distorção e na maior parte das vezes encoberta pelo teclado. No decorrer de 67, Elis Regina declarou guerra ao iê-iê-iê, defendendo uma suposta proteção aos valores nacionais. Todo esse clima de animosidade acabou culminando-se no dia 17 de julho de 1967, episódio conhecido como “passeata contra as guitarras” - marcha liderada por vários artistas contra a invasão estrangeira no país. O fim do iê-iê-iê é marcado pela saída de Roberto Carlos do programa Jovem Guarda. Ao mesmo tempo ocorre um ápice no tropicalismo. Este tinha um discurso ufanista, porém foi um movimento que tinha como proposta a música brasileira mais universal, não condenando o uso de guitarras elétricas, nem influências estrangeiras. Desse meio é que surge a banda Os Mutantes que se destacaram do que até então estava sendo feito no rock, letras irreverentes, porém mais maduras por estar mais em sintonia com o que estava sendo produzido pelo restante do mundo; “acertaram” o cronograma nacional, trazendo a psicodelia, o experimentalismo e o rock progressivo. Novas técnicas de gravação: utilizando objetos do dia-dia ao invés de instrumentos e até avançados recursos de estúdio. O melhor CD lançado por eles, contém todas as características dum verdadeiro rock progressivo: “Tudo foi feito pelo sol”.

Na década de setenta as paradas de sucesso estavam resgatando ritmos brasileiros. E um dos segmentos da música popular o “brega-romântico”, que se tornou uma das maiores fontes de lucro das gravadoras. O rock estava fora dos holofotes, mas não estava morto. Apenas por influencia direta do Tropicalismo, até a “nova” música brasileira passou a aderir elementos do rock estrangeiro. São reconhecidos nos discos do Clube da Esquina, Secos e Molhados, Samba-Rock, Rock Rural, Sá & Guarabira. Na segunda metade da década, as obstinadas bandas que insistiam em fazer rock no Brasil, geralmente tendiam para o hard: O Peso, Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Bicho da Seda, A Bolha. Para o progressivo: O Terço, Recordando o Vale das Maçãs, Som Nosso de Cada Dia, os Mutantes, Moto Perpétuo, Casa das Máquinas, Módulo 1000, Som Imaginário, Aves de Veludo, A Bolha, Bacamarte, Terreno Baldio. Este movimento conseguiu sobreviver, sem muita visibilidade, mesmo até ao ser suplantado pela onda da discoteca, que em 77 invadiu o Brasil.

O Rock volta às paradas de sucesso na década de 80. As grandes gravadoras decidiram abrir novamente o espaço para o ritmo, porem com o nome de BRock. E finalmente, a partir de 1982 suas bandas deslancham a fazer sucesso até o final da década. É uma geração fruto da primeira geração de roqueiros que se expandiu. Até 1985 – Blitz, Barão Vermelho, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor, RPM, Legião Urbana. Foi a vanguarda no rock feito na década de 80. O marco dessa época se caracteriza pela chegada dos grandes festivais de rock, como o Rock in Rio (1985) e a internacionalização do Hollywood Rock (1988-1994). Esses festivais foram bons para modernizar as técnicas de produção do espetáculo, tanto na parte sonora, quanto na luz e cenografia. Os eventos serviram também para mostrar a importância do cenário musical brasileiro para o mundo e para o próprio país; mostrar a evolução artística das bandas nacionais, que ao contrário do acontecido em 1985 foram colocadas no mesmo patamar das bandas estrangeiras. A consolidação da popularidade da banda Sepultura deixa bem clara essa importância.

A música do início da última década do século XX, no Brasil foi marcada por três “revoluções” que na verdade chegaram bem atrasadas em nossas terras: 1º a popularização do CD – em conseqüência, a duração dos álbuns poderia dobrar e as músicas não se limitariam mais no âmbito de um lado do LP. Consequentemente, o salto qualitativo da gravação digital trouxe novas possibilidades para os músicos em estúdios. 2ºA MTV no Brasil – modificou a maneira de cantores e bandas de lhe dar com a imagem. Devido a escassez de material, começaram a aceitar clipes de bandas fracas, sem muita expressão, divulgando-as. 3º A expansão dos selos ditos “independentes” – começaram restringindo tudo que não viria garantir rendimentos futuros (visão mercantilista), se comprometiam apenas com negócios que julgavam seguros. Estas gravadoras independentes forneciam espaço para que novos “talentos” pudessem ser descobertos ou criados. Os grandes selos encaravam os videoclipes como comerciais televisivos, concebidos para vender mercadorias, ajudando a criar ou até mesmo criando um novo público para seus artistas: através da ênfase em uma particular imagem visual – beleza. Esses novos conceitos abriram espaço para uma nova geração, mais frívola, aberta a essa linguagem, mil vezes mais preocupada com aparência que com a música em si.

O que poderia ter sido um impulso para o crescimento da expressão artística dos músicos, tornou-se um importante veículo as gravadoras promoverem seus produtos. Graças a estes fatores, a chamada “geração 90” foi marcada pelo surgimento de inúmeras bandas de muita “pobreza musical”, se distanciando cada vez mais dos verdadeiros preceitos da boa música: Skank, Pato Fu, Planet Hemp, O Rappa, Os Raimundos, Charlie Brown Jr que fizeram e fazem sucesso mais pela popularidade que por valor artístico. O rock nacional passa a viver uma crise de criatividade, surgindo muito poucas bandas de relevância.

9. CONCLUSÃO

Os resultados dos estudos realizados apontam que promover o desenvolvimento de uma compreensão musical ampla ocasiona um desempenho sólido e fecundo que permite ao aluno expressar-se musicalmente e não apenas o domínio de detalhes de natureza pragmática. Pois assim a busca da perfeição técnica não ofuscará a verdadeira essência da musicalidade. E o aluno passará a desenvolver uma qualidade de pensamento musical mais sofisticado. Este artigo conclui o ensino do Rock Progressivo como beneficiador no desenvolvimento do estudo de guitarra elétrica por aumentar a qualidade do ensino instrumental. As pesquisas realizadas apontam o estilo como um excelente contribuinte para a formação da bagagem musical. Devido à riqueza de elementos técnicos e sonoros que podem ser encontrados na complexidade de seus repertórios, se forem corretamente apreciados.

Este artigo tem como intenção fazer alguns esclarecimentos sobre o que significa ser musical, e sobre procedimentos simples associados à maneira mais correta de escutar. Além de ambicionar o despertar do interesse, nos estudantes, para a apreciação de outros estilos como a música clássica, por exemplo. O refinamento da audição aumenta as habilidades para entender o grau do virtuosismo das músicas, e futuramente, poder reproduzi-las. Aumenta, também, a possibilidade do estudante de estar sempre criando novas ferramentas para diferenciar, ou até mesmo criar uma música bem estruturada, bem trabalhada. Devido ao fato da abertura de maiores oportunidades para tomada de decisão criativa, a exploração musical expressiva, o refinamento estilístico e a realização estética. Quanto maior for sua bagagem musical, são maiores, também, as possibilidades de exploração na música. Quanto mais escalas se conhece, mais saídas, possibilidade terá para usar na improvisação, por exemplo.

Uma boa bagagem musical quando associada ao refinamento técnico e até mesmo ultrapassando seus limites, consequentemente trará resultados mais concisos, conscientes e eficientes. Portanto, concluímos que o ideal para a evolução musical dos alunos é seguir o caminho que melhor os conduzirá a encontrar o equilíbrio entre o desenvolver da técnica e da musicalidade dentro de um repertório. Encaminhando-o para o desenvolvimento do senso crítico e não se deixando enganar, engolindo qualquer musica que nos é imposta pela visão mercantilista. Que impede os produtores de fornecer espaço para músicos, compositores que realmente valham à pena. Essa é a causa do preconceito que existe não só nos alunos de guitarra, mas em todo o publico alvo da mídia, que não possibilita aos cidadãos que eles conheçam e gostem das outras tantas alternativas que não lhe são lucrativas. Assim despejam todas essa músicas lamentavelmente muito pobres e distantes das verdadeiras intenções musicais.


REFERÊNCIAS


COPLAND, Aaron. Como ouvir e entender música. 1. ed. Rio de Janeiro. Ed. Arte nova, 1974, p. 178.

DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem – Uma história do olhar no Ocidente. Petrópolis, RJ. Ed. Vozes, 1994. p. 361.

FERNANDES, Alvanize V. A música nas aulas de Educação Artística. Presença Pedagógica. Jul./ago. 1997. v.3 n. 16.

FRANÇA, Cecília C. A natureza da performance instrumental e sua avaliação no vestibular de musical. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

FRIEDLANDER, Paul. Rock and roll: uma história social. Rio de Janeiro, Ed. Record, 2002. p. 371.

GÁRCIA, J. Alves. Princípios de psicologia. 4. ed. Rio de Janeiro, Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1973, p. 504.

HUDSON, Kelvin Holm. Progressive Rock Reconsidered. 1. ed. Ed. Routlege, 2001, p. 304.

KERLINGER, Fred N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais. 1. ed. São Paulo, Ed. EDUSP, 1980, p. 378.

MELLO, Zuza Homem de. SEVERIANO, Jairo. A canção no tampo – 85 anos de música brasileira. Vol. 2. São Paulo, Ed. 34, 1998, p. 368.

MONTANARI, Valdir. Rock Progressivo. 1. ed. Campinas, Papirus, 1985.

MONTANARI, Valdir. História da Música da Idade da Pedra à Idade do Rock. 4. ed. São Paulo, Ed. Ática, 1993, p. 87.

NESTROVSKI, Arthur. Notas musicais. São Paulo, Publifolha, 2000.

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REZENDE, Conceição. Aspectos da Música Ocidental. Belo Horizonte: UFMG 1971

STRAVINSKY, Igor. Poética musical em 6 lições. Rio de Janeiro:
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TRIBUTO A WES MONTGOMERY, O BLUES DE SCOTT HEDERSON. São Paulo: Guitar Player, setembro de 1998. Mensal. ISSN 1413-4721.

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