O músico e cartunista Lailson é uma das legendas do rock pernambucano dos anos setenta. Junto com Lula Côrtes, gravou 'Satwa', clássico e precursor da cena psicodélica, que desembocou na invasão nordestina, na segunda metade da década. Ele também participou da gravação da maioria dos discos daquela época, incluindo raridades como 'Paebirú', de Lula Côrtes & Zé Ramalho. Com seu grupo Phetus, ao lado de Paulo Raphael, Zé da Flauta e Bira Total, dividiu os palcos de Recife com outras bandas como Tamarineira Village, depois rebatizada de Ave Sangria. Atualmente um cartunista de renome internacional, Lailson segue fiel ao rock and roll, tocando com sua banda Lailson Blues Band. Em entrevista a Senhor F, ele conta um pouco da história da época e também dos seus planos presentes.
Senhor F - No início dos anos setenta, Recife sediou um dos movimentos musicais e culturais mais interessantes e importantes daquele momento. Como surgiu, quem eram os principais artistas ou grupos que faziam parte? É procedente a definição de "pós-tropicalismo" que via de regra é utilizado para definir a orientação do grupo? Como era existir fora do "centro"?
Lailson - Não acredito que o termo ‘pós-tropicalismo’ seja adequado. Na verdade, o simples fato de existir fora do eixo principal RJ/SP/MG levou as pessoas aqui a criar uma alternativa sonora que buscava mais uma forma de expressão independente e individual através de uma experimentação constante. No princípio e até o final dos anos 60, aqui no Recife como no Rio e São Paulo, a maior parte das bandas faziam covers tanto das bandas estrangeiras quanto dos sucessos populares. Os Bambinos e Os Moderatos, por exemplo ( Robertinho do Recife tocou em ambos), tocavam Steppenwolf, Beatles, Rolling Stones, mas não tinham, que eu lembre, composições próprias. Já o Silver Jets (onde participavam Fernando Filizola - depois fundador do Quinteto Violado - e Reginaldo Rossi - dispensa apresentações) tinha suas próprias músicas, mas tocava muita coisa dos outros em bailes. O que diferencia todo o movimento que aconteceu entre 1972/75 é que praticamente todos os artistas ou grupos envolvidos queriam apresentar um material próprio, pouco se importando em tocar em bailes ou fazer um som popularesco. Era a música pela música, a expressão criativa pelo prazer de criar e apresentar uma proposta original. Podemos considerar que a primeira manifestação coletiva do movimento foi a Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém, que foi o nosso ‘Woodstock’ local, com dois dias de música com entrada franca na cidade - teatro de Nova Jerusalém (onde anualmente é realizado o mega-espetáculo da Paixão de Cristo), promovido pelo DCE e da qual eu fui o coordenador musical. Nessa época minha banda era composta por mim no baixo, Ivinho na guitarrra, Almir no violão (ambos posteriormente fundadores do Tamarineira Village/Ave Sangria) e Bira Total na bateria. Marco Polo voltou do Rio também pra Feira e formou o Tamarineira Village a partir daí. E foi aí também onde conheci Lula Côrtes. Apresentaram-se outras bandas, inclusive o Nuvem 33.
Senhor F - Quais eram as suas influências musicais e em particular, e deste grupo em geral, além do tropicalismo e da música regional? Beatles & toda a turma da invasão inglesa? A psicodelia pós-Jimi Hendrix e os primórdios do rock progessivo? O blues clássico americano?
Lailson - Eu havia acabado de voltar dos EUA, onde passara a maior parte do ano em Pine Bluff, Arkansas (terra do Luther Allison) e estava fortemente influenciado pelo Cream e pelo Jethro Tull, além de Frank Zappa, Traffic, The Who e Emerson Lake & Palmer. Antes, minhas influências eram mais dos Beatles, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, Blind Faith, Mutantes e Jimi Hendrix. Mas o Cream e o fato de estar no Sul dos Estados Unidos, ouvindo no rádio tanto o Blues quanto o Gospel e o Country, fizeram - me despertar para estes ritmos, também. A música regional, principalmente Luiz Gonzaga, faz parte do meu atavismo, é uma coisa natural. Lula tinha uma forte influência tanto da música regional quanto da percussão da Umbanda e do Maracatu. O pessoal do Village era mais voltado para o chorinho, o samba e a MPB, misturado com o rock brasileiro.
Senhor F - No campo da música, você e Lula Côrtes foram os primeiros a gravar um disco, instrumental e batizado de Lula Côrtes & Lailson. Em que ano foi isso? Como foi a gravação deste disco? Qual ou quais instrumentos você tocava? Além de vocês, quem mais toca nele?
Lailson - O disco chama-se ‘Satwa’, que é um dos preceitos hindus, como o Dharma e é de janeiro de 1973. Quando aconteceu a Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém em novembro de 1972, eu conheci Lula Côrtes e nos tornamos amigos imediatamente, muito pelo fato de sermos ambos músicos e artistas plásticos. Lula tinha acabado de voltar do Marrocos e trouxera uma cítara popular marroquina, um tricórdio. Começamos a tocar juntos, criando temas e improvisando sobre eles e fomos gravando tudo num gravador de rolo, eu na viola de 12 cordas e ele no tricórdio. Num determinado momento, chegamos à conclusão de que poderíamos gravar um disco de verdade, ao invés de ficarmos fazendo só gravações domésticas. A Rozemblit - gravadora pioneira, que além de gravar os principais compositores pernambucanos, também lançou coleções de artistas estrangeiros, que incluía, por exemplo, Ray Charles - estava já entrando num período de dificuldades e fomos lá pra saber quanto custaria alugar o estúdio e prensar um LP. Juntamos a grana que tínhamos e fomos trabalhar. Não tínhamos a mínima idéia de que estávamos fazendo algo pioneiro, para nós era uma coisa absolutamente natural! Em pouco mais de duas semanas tínhamos gravado as músicas, pois varávamos as madrugadas tocando no estúdio, voltávamos de dia pra lá pra escolher as músicas, foi um processo rápido, mas muito produtivo. No disco eu toco viola de 12 cordas, violão e faço uns "vocalizes" meio viajados, porque havíamos decidido que não colocaríamos letras nas músicas (três delas tinham letras, originalmente), mas para colocarmos letras teríamos que submetê-las à Censura Federal e isso a gente não estava a fim, mesmo! Mas os títulos das músicas falavam por si mesmos: ‘Valsa dos Cogumelos’, ‘Can I Be Satwa?’, ‘Allegro Piradíssimo’, ‘Blues do Cachorro Muito Louco’, ‘Apacidonata’, etc. Robertinho do Recife foi convidado pra colocar uma guitarra no ‘Blues do Cachorro Muito Louco’, é o único convidado do disco.
Senhor F - Outros discos também foram gravados naquele período: ‘Paebirú’, com Lula Côrtes & Zé Ramalho; ‘No Sub Reino dos Metazoários’, com Marconi Notaro; ‘Flaviola e o Bando do Sol’, com os próprios; e, ainda, ‘Ave Sangria’, com o grupo. Em quais deles você teve participação? E em qual ordem cronológica eles foram gravados?
Lailson - Depois que fizemos ‘Satwa’, eu e Lula partimos para trabalhos separados, ele estava mais voltado para a carreira de artista plástico e eu fundei, junto com Paulo Rafael - que tocara comigo nas bandas de rock da adolescência - e Zé da Flauta - que estudava comigo no Conservatório Pernambucano de Música - a banda Phetus, que fazia um som experimental, misturando várias propostas, sendo, no entanto, a mais aparente, uma fusão de ritmos com o Rock Progressivo (tínhamos um rock com letra em tupi-guarani e fizemos a primeira fusão bem sucedida entre o baião e o hard rock, uma música chamada ‘Alagoas’). Em ‘Satwa’ eu e Lula já havíamos experimentado fundir a música oriental com a música nordestina. Zé da Flauta tinha desde então uma fascinação com o som das bandas de pífano e Paulo Rafael é oriundo de Caruaru e traz a música nordestina no sangue. Era uma banda que tinha uma preocupação muito grande em criar uma atmosfera no palco, utiliz'zvamos uma maquiagem meio gótica, só tocávamos a partir da meia-noite, antes do show começar tinha toda uma produção com trilha sonora gravada e projeção de slides, essas coisas. Por essa época, (maio/junho de 73) Marconi Notaro pediu para Lula e Kátia Mesel - casada com Lula naquela época e que também havia participado da produção de ‘Satwa’ - para produzir o ‘Sub Reino dos Metazoários’. Depois foi a vez de Flaviola, também produzido por Lula e, se não me engano, por Marconi Notaro que já estava trabalhando na Rozemblit, como produtor. ‘Paêbiru’ foi o último trabalho gravado dentro da Rozemblit, mas aí já não era como trabalho independente. Creio que desde os ‘Metazoários’, que a Rozemblit já entendera que havia novidade no ar e passou a bancar as gravações. ‘Paêbiru’ reúne praticamente todas as pessoas da cena musical daquela época. Além de ‘Stawa’, é o único outro disco onde participo, na faixa ‘Maracas de Fogo’, onde faço o vocal junto com Alceu Valença, Zé Ramalho e Marconi Notaro, sobre um tema instrumental onde pontifica a guitarra de Ivinho. Por essa época, a Continental interessou-se pelo que acontecia aqui e procurou as bandas que estavam produzindo. Mas eu já tinha desfeito o Phetus e o Tamarineira foi contratado, porém tinha que mudar o nome, pois a gravadora considerava que o nome original era muito regional, então mudaram para Ave Sangria, mesmo nome do disco que foi gravado no Rio de Janeiro, em uma semana.
Senhor F – Os discos, então, em sua maioria, foram gravados pela Rozemblit, um gravadora com sede em Recife. Como eram as condições de gravar? Não havia possibilidade gravar no centro do país? Como você viam essa relação artistas/selo local, que na verdade ainda hoje encontra dificuldade de afirmar-se?
Lailson - Todos, exceto o do Ave Sangria. Na Rozemblit, quando gravamos ‘Satwa’, as condições eram bastante precárias. O disco tem um ‘fake stereo’, na verdade a faixa mono é reproduzida nos dois canais. As dificuldades técnicas eram do tipo que, se fôssemos fazer um playback, não podíamos ficar muito longe da mesa de som, senão dava delay! Por outro lado, tínhamos um estúdio enorme só pra nós e podíamos experimentar à vontade. E também tinha todo um parque gráfico e de prensagem dos discos. Já para ‘Paêbiru’, a gravadora já havia investido em equipamentos melhores. Mas logo depois da gravação teve a grande cheia de 75 que submergiu a gravadora - levando 800 dos 1000 'Paêbiru's' existentes! - a aí foi o final da história.
Senhor F - Apesar de qualidade, da importância musical e da curiosidade de milhares de pessoas no Brasil e no mundo inteiro, os discos referidos permanecem todos, sem exceção, inéditos. O que você acha disso? Existe alguma idéia de relançar alguns deles, pelo menos, em cd?
Lailson - Não creio que relançar estes discos em CD seja a melhor das idéias... Eles tem um valor histórico muito grande principalmente pela maneira underground e independente como foram feitos. Seria muito difícil remixar para chegar a uma qualidade sonora compatível com o material que hoje é produzido. É como ouvir as gravações originais de Blind Lemon Jefferson; tem que ser um fã ardoroso de Blues pra gostar! Prefiro ouví-los em vinil, apesar de ter transposto alguns deles para CD e o resultado seja bom. No entanto, creio que uma releitura desse material todo seria muito melhor. Uma versão de ‘Satwa’ para orquestra e banda de rock, com inclusão de instrumentos regionais, por exemplo, daria bem a idéia do tipo de som que tocava nas nossas cabeças naquela época. E seria um som compreensível pelo público de hoje.
Senhor F - Existem muitas músicas inéditas daquela época, que não foram registradas em vinil? Existe a possibilidade de regrá-las atualmente? Algum projeto está em andamento em relação a isso?
Lailson - Já isso eu acho uma ótima idéia, pois muita coisa não ficou registrada. Minha banda Phetus, por exemplo, foi gravada ao vivo no Teatro Santa Isabel e no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães e também num especial em vídeo para a TV Universitária. Todas as três gravações se perderam! Não temos nenhum registro sonoro dela, da época. E era uma banda que contava com dois músicos excepcionais, Zé da Flauta e Paulo Rafael que foram depois tocar com Alceu Valença e formataram em definitivo a linha de fusão entre a música nordestina e o rock progressivo que delineamos no Phetus. O Tamarineira tinha ótimas canções como ‘Fora da Paisagem’ - de Almir Oliveira - e ‘Marginal’ - de Marco Polo - que permaneceram inéditas. Então, agora, o produtor Flávio Domingues está produzindo a partir de uma idéia do vocalista Humberto, do Ave Sangria Cover, um disco chamado ‘A Turma do Becco do Barato’ que reúne uma boa parte do material daquela época. O Becco do Barato era o ‘point’ onde tudo rolava, era uma casa de shows/bar onde todos nós nos apresentávamos e onde a cena musical daquela época aconteceu - como aconteceria nos anos 90 com a Soparia e o Movimento Mangue - e que todo mundo que fazia alguma coisa naqueles tempos freqüentava. Conseguimos reunir o Phetus outra vez agora, gravei duas músicas minhas (‘Anjos de Bronze’ e ‘Vacas Roxas’) utilizando os músicos da minha banda atual, a Lailson Blues Band (Riva Le Boss nas violas, Misael Barros na bateria e Jean Elton no baixo) para a base e Paulo Rafael veio do Rio pra colocar as guitarrras e Zé da Flauta - que também é o produtor musical do disco - colocou as flautas. De todo o pessoal, é a única banda que estará completa, pois do Ave participam apenas Almir, Marco Polo e Ivinho. Lula canta acompanhado da banda que toca com ele hoje, a Má Companhia.
Senhor F - Além de músico, você era, digamos, o principal responsável pelos aspectos gráficos dos trabalhos. O famoso e pouco conhecido projeto gráfico do disco ‘Paebirú’ é de sua autoria? Você poderia falar sobre ele? E o que ocorreu com a capa do disco do Ave Sangria, que era de sua autoria, mas acabou saindo uma ‘cópia’ adaptada?
Lailson - Em ‘Satwa’, o projeto gráfico foi realizado conjuntamente por Kátia Mesel, Lula Côrtes e eu, tem um pouco de cada um na capa. Dois desenhos meus estão na contracapa e o demônio alienígena do selo também é um desenho meu, além de todo o texto da contracapa. O logotipo da Feira Experimental de Música foi desenvolvido a partir de uma idéia minha, também. Os cartazes do Phetus, programas com as letras, também eram de minha autoria. Quando o Tamarineira virou Ave Sangria, eles me pediram para fazer a capa e eu fiz um desenho em guache com uma mulher metamorfoseada em ave num cenário de um Nordeste visto com olhos ‘ácido-psicodélicos’. Mas a Continental não quis me pagar pelo trabalho e então mandaram um artista da empresa fazer um pastiche da arte original, onde ele transformou a minha mulher ave em um papagaio drag queen! Colocaram meu nome como autor do layout, mas nunca pagaram nem devolveram meu original. Para o Ave eu fiz ainda o cartaz e a programação visual - além dos textos e a direção de cena - do show ‘Perfume & Baratchos’, realizado no Teatro Santa Isabel, em 75.
Senhor F - Esse talento veio antes do musical, ou desenvolveu-se conjuntamente? O que o fez optar, se é que isso ocorreu, pela carreira de artista gráfico/plástico? Sua carreira desenvolveu-se a partir de Recife, mas com uma inserção até mesmo internacional? Como se deu esse processo?
Lailson - Eu sempre desenhei, desde criança. Aos 14 anos é que comecei a tocar violão e guitarra. Nos EUA, em 1971, ganhei meu primeiro prêmio, o Best Original Artwork concedido pela Arkansas High School Press Association, por uma charge que fiz para o jornal The Pine Cone. Lá eu também tinha uma banda de rock. Quer dizer, as coisas sempre caminharam juntas. Mas comecei a trabalhar profissionalmente com desenho desde os 16 anos, fazendo material audiovisual para um curso de inglês que havia aqui. Mas quando desfiz o Phetus, Zé foi tocar numa banda de Robertinho, a Ala Delí e Paulo foi chamado para compor o Ave Sangria. Então, sem os outros caras da banda, resolvi trabalhar numa agência de publicidade para ganhar algum dinheiro e daí para a imprensa, foi uma questão de tempo, pois fui premiado no IV Salão Internacional de Humor de Piracicaba, o que me abriu o caminho para me tornar o chargista diário do Diário de Pernambuco, onde estou desde 1977. Fiz antes um ‘comeback’ em 75, com uma banda onde participavam Marco Polo, Almir Oliveira, Sinay Pessoa (irmão de Ivinho) e Robertinho do Recife, mas aí a cena já estava no seu final e a idéia não vingou, então me dediquei à minha carreira de cartunista e ilustrador. Como fui premiado em outros salões nacionais e internacionais e passei a organizar eventos nacionais - atualmente internacionais, como é o caso do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco - de humor gráfico aqui no Recife desde o princípio dos anos 80, fui estabelecendo vínculos com profissionais de diversos países e hoje faço parte de vários eventos internacionais, principalmente na Espanha.
Senhor F - Atualmente, você é um artista gráfico consagrado, mas ainda mantém o lado musical em atividade. Você lidera uma banda de blues, é isso? Como se chama, qual o repertório básico? Faz shows com regularidade?
Lailson - Voltei para a música meio de brincadeira em 91, com uma banda chamada Blusbróders, mas aí começamos a nos apresentar regularmente pela noite e a atrair um público. A Blusbróders mudou para D´Bróders Company e depois formei A Garagem - com a qual comecei a gravar um CD, que não ficou concluído, só quatro músicas foram finalizadas. Em 96, criei a Lailson Blues Band que, além de Pernambuco, já se apresentou em Natal. Aqui no Recife, tocamos em praticamente todas as casas que tinham espaço para o blues. Atualmente existem poucos espaços que aceitem este tipo de música aqui, infelizmente. O repertório é uma releitura de clássicos do Blues com uma abordagem rock’n’roll (o que eu chamo de Heavy Blues), e inclui também várias das minhas composições originais. Em 2002, devido a eu estar muito envolvido com meus projetos de humor e quadrinhos, nos apresentamos pouco. A última apresentação para um público grande foi no Festival de Inverno de Garanhuns, dividindo o palco (nós antes, eles depois) com o Blues Etílicos.
Senhor F - Nos últimos anos, quais artistas brasileiros chamaram a tua atenção? E estrangeiros, alguém em particular te agradou? O que achaste do Manguebit, especialmente de Chico Science?
Lailson - Eu tenho um gosto musical muito datado. Continuo gostando do rock progressivo e do blues clássico, com uma predilação por B.B. King e Eric Clapton. Da cena brasileira, acompanho o Celso Blues Boy, o Blues Etílicos, o Big Joe Manfra, a Clara Ghimmel. Gosto muito do Lenine, do Leo Gandelman, do Lula Queiroga, Paulo Moska. O Manguebeat foi uma coisa muito nova dentro do marasmo em que estava a cena musical do final dos anos 80 em Pernambuco. Eles realmente tinham uma consciência de manifesto, de movimento cultural. Chico era um cara ótimo, tínhamos pouca aproximação mas vários amigos em comum, principalmente Herr Doktor Mabuse. Acho que Chico não percebia exatamente a dimensão que ele adquiriu dentro de todo o processo. Como ele viajou cedo, nunca vamos saber com certeza do que mais ele seria capaz.
Senhor F - Quais teus dez discos preferidos de toda a história do rock, ou da música em geral, se preferir?
Lailson - Aqualung (Jethro Tull); Beggars Banquet (Rolling Stones); I´m Your Man (Leonard Cohen); In The Court of The Crimson King (King Crimson); ELP (primeiro álbum); Selling England By The Pound (Genesis); From The Craddle ( Eric Clapton); Robert Johnson (The Recordings) Blind Faith (Blind Faith) e Premonition (John Fogerty). Tem mais uns trezentos, mas esses dez eu sempre escuto!
Senhor F - No início dos anos setenta, Recife sediou um dos movimentos musicais e culturais mais interessantes e importantes daquele momento. Como surgiu, quem eram os principais artistas ou grupos que faziam parte? É procedente a definição de "pós-tropicalismo" que via de regra é utilizado para definir a orientação do grupo? Como era existir fora do "centro"?
Lailson - Não acredito que o termo ‘pós-tropicalismo’ seja adequado. Na verdade, o simples fato de existir fora do eixo principal RJ/SP/MG levou as pessoas aqui a criar uma alternativa sonora que buscava mais uma forma de expressão independente e individual através de uma experimentação constante. No princípio e até o final dos anos 60, aqui no Recife como no Rio e São Paulo, a maior parte das bandas faziam covers tanto das bandas estrangeiras quanto dos sucessos populares. Os Bambinos e Os Moderatos, por exemplo ( Robertinho do Recife tocou em ambos), tocavam Steppenwolf, Beatles, Rolling Stones, mas não tinham, que eu lembre, composições próprias. Já o Silver Jets (onde participavam Fernando Filizola - depois fundador do Quinteto Violado - e Reginaldo Rossi - dispensa apresentações) tinha suas próprias músicas, mas tocava muita coisa dos outros em bailes. O que diferencia todo o movimento que aconteceu entre 1972/75 é que praticamente todos os artistas ou grupos envolvidos queriam apresentar um material próprio, pouco se importando em tocar em bailes ou fazer um som popularesco. Era a música pela música, a expressão criativa pelo prazer de criar e apresentar uma proposta original. Podemos considerar que a primeira manifestação coletiva do movimento foi a Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém, que foi o nosso ‘Woodstock’ local, com dois dias de música com entrada franca na cidade - teatro de Nova Jerusalém (onde anualmente é realizado o mega-espetáculo da Paixão de Cristo), promovido pelo DCE e da qual eu fui o coordenador musical. Nessa época minha banda era composta por mim no baixo, Ivinho na guitarrra, Almir no violão (ambos posteriormente fundadores do Tamarineira Village/Ave Sangria) e Bira Total na bateria. Marco Polo voltou do Rio também pra Feira e formou o Tamarineira Village a partir daí. E foi aí também onde conheci Lula Côrtes. Apresentaram-se outras bandas, inclusive o Nuvem 33.
Senhor F - Quais eram as suas influências musicais e em particular, e deste grupo em geral, além do tropicalismo e da música regional? Beatles & toda a turma da invasão inglesa? A psicodelia pós-Jimi Hendrix e os primórdios do rock progessivo? O blues clássico americano?
Lailson - Eu havia acabado de voltar dos EUA, onde passara a maior parte do ano em Pine Bluff, Arkansas (terra do Luther Allison) e estava fortemente influenciado pelo Cream e pelo Jethro Tull, além de Frank Zappa, Traffic, The Who e Emerson Lake & Palmer. Antes, minhas influências eram mais dos Beatles, Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, Blind Faith, Mutantes e Jimi Hendrix. Mas o Cream e o fato de estar no Sul dos Estados Unidos, ouvindo no rádio tanto o Blues quanto o Gospel e o Country, fizeram - me despertar para estes ritmos, também. A música regional, principalmente Luiz Gonzaga, faz parte do meu atavismo, é uma coisa natural. Lula tinha uma forte influência tanto da música regional quanto da percussão da Umbanda e do Maracatu. O pessoal do Village era mais voltado para o chorinho, o samba e a MPB, misturado com o rock brasileiro.
Senhor F - No campo da música, você e Lula Côrtes foram os primeiros a gravar um disco, instrumental e batizado de Lula Côrtes & Lailson. Em que ano foi isso? Como foi a gravação deste disco? Qual ou quais instrumentos você tocava? Além de vocês, quem mais toca nele?
Lailson - O disco chama-se ‘Satwa’, que é um dos preceitos hindus, como o Dharma e é de janeiro de 1973. Quando aconteceu a Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém em novembro de 1972, eu conheci Lula Côrtes e nos tornamos amigos imediatamente, muito pelo fato de sermos ambos músicos e artistas plásticos. Lula tinha acabado de voltar do Marrocos e trouxera uma cítara popular marroquina, um tricórdio. Começamos a tocar juntos, criando temas e improvisando sobre eles e fomos gravando tudo num gravador de rolo, eu na viola de 12 cordas e ele no tricórdio. Num determinado momento, chegamos à conclusão de que poderíamos gravar um disco de verdade, ao invés de ficarmos fazendo só gravações domésticas. A Rozemblit - gravadora pioneira, que além de gravar os principais compositores pernambucanos, também lançou coleções de artistas estrangeiros, que incluía, por exemplo, Ray Charles - estava já entrando num período de dificuldades e fomos lá pra saber quanto custaria alugar o estúdio e prensar um LP. Juntamos a grana que tínhamos e fomos trabalhar. Não tínhamos a mínima idéia de que estávamos fazendo algo pioneiro, para nós era uma coisa absolutamente natural! Em pouco mais de duas semanas tínhamos gravado as músicas, pois varávamos as madrugadas tocando no estúdio, voltávamos de dia pra lá pra escolher as músicas, foi um processo rápido, mas muito produtivo. No disco eu toco viola de 12 cordas, violão e faço uns "vocalizes" meio viajados, porque havíamos decidido que não colocaríamos letras nas músicas (três delas tinham letras, originalmente), mas para colocarmos letras teríamos que submetê-las à Censura Federal e isso a gente não estava a fim, mesmo! Mas os títulos das músicas falavam por si mesmos: ‘Valsa dos Cogumelos’, ‘Can I Be Satwa?’, ‘Allegro Piradíssimo’, ‘Blues do Cachorro Muito Louco’, ‘Apacidonata’, etc. Robertinho do Recife foi convidado pra colocar uma guitarra no ‘Blues do Cachorro Muito Louco’, é o único convidado do disco.
Senhor F - Outros discos também foram gravados naquele período: ‘Paebirú’, com Lula Côrtes & Zé Ramalho; ‘No Sub Reino dos Metazoários’, com Marconi Notaro; ‘Flaviola e o Bando do Sol’, com os próprios; e, ainda, ‘Ave Sangria’, com o grupo. Em quais deles você teve participação? E em qual ordem cronológica eles foram gravados?
Lailson - Depois que fizemos ‘Satwa’, eu e Lula partimos para trabalhos separados, ele estava mais voltado para a carreira de artista plástico e eu fundei, junto com Paulo Rafael - que tocara comigo nas bandas de rock da adolescência - e Zé da Flauta - que estudava comigo no Conservatório Pernambucano de Música - a banda Phetus, que fazia um som experimental, misturando várias propostas, sendo, no entanto, a mais aparente, uma fusão de ritmos com o Rock Progressivo (tínhamos um rock com letra em tupi-guarani e fizemos a primeira fusão bem sucedida entre o baião e o hard rock, uma música chamada ‘Alagoas’). Em ‘Satwa’ eu e Lula já havíamos experimentado fundir a música oriental com a música nordestina. Zé da Flauta tinha desde então uma fascinação com o som das bandas de pífano e Paulo Rafael é oriundo de Caruaru e traz a música nordestina no sangue. Era uma banda que tinha uma preocupação muito grande em criar uma atmosfera no palco, utiliz'zvamos uma maquiagem meio gótica, só tocávamos a partir da meia-noite, antes do show começar tinha toda uma produção com trilha sonora gravada e projeção de slides, essas coisas. Por essa época, (maio/junho de 73) Marconi Notaro pediu para Lula e Kátia Mesel - casada com Lula naquela época e que também havia participado da produção de ‘Satwa’ - para produzir o ‘Sub Reino dos Metazoários’. Depois foi a vez de Flaviola, também produzido por Lula e, se não me engano, por Marconi Notaro que já estava trabalhando na Rozemblit, como produtor. ‘Paêbiru’ foi o último trabalho gravado dentro da Rozemblit, mas aí já não era como trabalho independente. Creio que desde os ‘Metazoários’, que a Rozemblit já entendera que havia novidade no ar e passou a bancar as gravações. ‘Paêbiru’ reúne praticamente todas as pessoas da cena musical daquela época. Além de ‘Stawa’, é o único outro disco onde participo, na faixa ‘Maracas de Fogo’, onde faço o vocal junto com Alceu Valença, Zé Ramalho e Marconi Notaro, sobre um tema instrumental onde pontifica a guitarra de Ivinho. Por essa época, a Continental interessou-se pelo que acontecia aqui e procurou as bandas que estavam produzindo. Mas eu já tinha desfeito o Phetus e o Tamarineira foi contratado, porém tinha que mudar o nome, pois a gravadora considerava que o nome original era muito regional, então mudaram para Ave Sangria, mesmo nome do disco que foi gravado no Rio de Janeiro, em uma semana.
Senhor F – Os discos, então, em sua maioria, foram gravados pela Rozemblit, um gravadora com sede em Recife. Como eram as condições de gravar? Não havia possibilidade gravar no centro do país? Como você viam essa relação artistas/selo local, que na verdade ainda hoje encontra dificuldade de afirmar-se?
Lailson - Todos, exceto o do Ave Sangria. Na Rozemblit, quando gravamos ‘Satwa’, as condições eram bastante precárias. O disco tem um ‘fake stereo’, na verdade a faixa mono é reproduzida nos dois canais. As dificuldades técnicas eram do tipo que, se fôssemos fazer um playback, não podíamos ficar muito longe da mesa de som, senão dava delay! Por outro lado, tínhamos um estúdio enorme só pra nós e podíamos experimentar à vontade. E também tinha todo um parque gráfico e de prensagem dos discos. Já para ‘Paêbiru’, a gravadora já havia investido em equipamentos melhores. Mas logo depois da gravação teve a grande cheia de 75 que submergiu a gravadora - levando 800 dos 1000 'Paêbiru's' existentes! - a aí foi o final da história.
Senhor F - Apesar de qualidade, da importância musical e da curiosidade de milhares de pessoas no Brasil e no mundo inteiro, os discos referidos permanecem todos, sem exceção, inéditos. O que você acha disso? Existe alguma idéia de relançar alguns deles, pelo menos, em cd?
Lailson - Não creio que relançar estes discos em CD seja a melhor das idéias... Eles tem um valor histórico muito grande principalmente pela maneira underground e independente como foram feitos. Seria muito difícil remixar para chegar a uma qualidade sonora compatível com o material que hoje é produzido. É como ouvir as gravações originais de Blind Lemon Jefferson; tem que ser um fã ardoroso de Blues pra gostar! Prefiro ouví-los em vinil, apesar de ter transposto alguns deles para CD e o resultado seja bom. No entanto, creio que uma releitura desse material todo seria muito melhor. Uma versão de ‘Satwa’ para orquestra e banda de rock, com inclusão de instrumentos regionais, por exemplo, daria bem a idéia do tipo de som que tocava nas nossas cabeças naquela época. E seria um som compreensível pelo público de hoje.
Senhor F - Existem muitas músicas inéditas daquela época, que não foram registradas em vinil? Existe a possibilidade de regrá-las atualmente? Algum projeto está em andamento em relação a isso?
Lailson - Já isso eu acho uma ótima idéia, pois muita coisa não ficou registrada. Minha banda Phetus, por exemplo, foi gravada ao vivo no Teatro Santa Isabel e no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães e também num especial em vídeo para a TV Universitária. Todas as três gravações se perderam! Não temos nenhum registro sonoro dela, da época. E era uma banda que contava com dois músicos excepcionais, Zé da Flauta e Paulo Rafael que foram depois tocar com Alceu Valença e formataram em definitivo a linha de fusão entre a música nordestina e o rock progressivo que delineamos no Phetus. O Tamarineira tinha ótimas canções como ‘Fora da Paisagem’ - de Almir Oliveira - e ‘Marginal’ - de Marco Polo - que permaneceram inéditas. Então, agora, o produtor Flávio Domingues está produzindo a partir de uma idéia do vocalista Humberto, do Ave Sangria Cover, um disco chamado ‘A Turma do Becco do Barato’ que reúne uma boa parte do material daquela época. O Becco do Barato era o ‘point’ onde tudo rolava, era uma casa de shows/bar onde todos nós nos apresentávamos e onde a cena musical daquela época aconteceu - como aconteceria nos anos 90 com a Soparia e o Movimento Mangue - e que todo mundo que fazia alguma coisa naqueles tempos freqüentava. Conseguimos reunir o Phetus outra vez agora, gravei duas músicas minhas (‘Anjos de Bronze’ e ‘Vacas Roxas’) utilizando os músicos da minha banda atual, a Lailson Blues Band (Riva Le Boss nas violas, Misael Barros na bateria e Jean Elton no baixo) para a base e Paulo Rafael veio do Rio pra colocar as guitarrras e Zé da Flauta - que também é o produtor musical do disco - colocou as flautas. De todo o pessoal, é a única banda que estará completa, pois do Ave participam apenas Almir, Marco Polo e Ivinho. Lula canta acompanhado da banda que toca com ele hoje, a Má Companhia.
Senhor F - Além de músico, você era, digamos, o principal responsável pelos aspectos gráficos dos trabalhos. O famoso e pouco conhecido projeto gráfico do disco ‘Paebirú’ é de sua autoria? Você poderia falar sobre ele? E o que ocorreu com a capa do disco do Ave Sangria, que era de sua autoria, mas acabou saindo uma ‘cópia’ adaptada?
Lailson - Em ‘Satwa’, o projeto gráfico foi realizado conjuntamente por Kátia Mesel, Lula Côrtes e eu, tem um pouco de cada um na capa. Dois desenhos meus estão na contracapa e o demônio alienígena do selo também é um desenho meu, além de todo o texto da contracapa. O logotipo da Feira Experimental de Música foi desenvolvido a partir de uma idéia minha, também. Os cartazes do Phetus, programas com as letras, também eram de minha autoria. Quando o Tamarineira virou Ave Sangria, eles me pediram para fazer a capa e eu fiz um desenho em guache com uma mulher metamorfoseada em ave num cenário de um Nordeste visto com olhos ‘ácido-psicodélicos’. Mas a Continental não quis me pagar pelo trabalho e então mandaram um artista da empresa fazer um pastiche da arte original, onde ele transformou a minha mulher ave em um papagaio drag queen! Colocaram meu nome como autor do layout, mas nunca pagaram nem devolveram meu original. Para o Ave eu fiz ainda o cartaz e a programação visual - além dos textos e a direção de cena - do show ‘Perfume & Baratchos’, realizado no Teatro Santa Isabel, em 75.
Senhor F - Esse talento veio antes do musical, ou desenvolveu-se conjuntamente? O que o fez optar, se é que isso ocorreu, pela carreira de artista gráfico/plástico? Sua carreira desenvolveu-se a partir de Recife, mas com uma inserção até mesmo internacional? Como se deu esse processo?
Lailson - Eu sempre desenhei, desde criança. Aos 14 anos é que comecei a tocar violão e guitarra. Nos EUA, em 1971, ganhei meu primeiro prêmio, o Best Original Artwork concedido pela Arkansas High School Press Association, por uma charge que fiz para o jornal The Pine Cone. Lá eu também tinha uma banda de rock. Quer dizer, as coisas sempre caminharam juntas. Mas comecei a trabalhar profissionalmente com desenho desde os 16 anos, fazendo material audiovisual para um curso de inglês que havia aqui. Mas quando desfiz o Phetus, Zé foi tocar numa banda de Robertinho, a Ala Delí e Paulo foi chamado para compor o Ave Sangria. Então, sem os outros caras da banda, resolvi trabalhar numa agência de publicidade para ganhar algum dinheiro e daí para a imprensa, foi uma questão de tempo, pois fui premiado no IV Salão Internacional de Humor de Piracicaba, o que me abriu o caminho para me tornar o chargista diário do Diário de Pernambuco, onde estou desde 1977. Fiz antes um ‘comeback’ em 75, com uma banda onde participavam Marco Polo, Almir Oliveira, Sinay Pessoa (irmão de Ivinho) e Robertinho do Recife, mas aí a cena já estava no seu final e a idéia não vingou, então me dediquei à minha carreira de cartunista e ilustrador. Como fui premiado em outros salões nacionais e internacionais e passei a organizar eventos nacionais - atualmente internacionais, como é o caso do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco - de humor gráfico aqui no Recife desde o princípio dos anos 80, fui estabelecendo vínculos com profissionais de diversos países e hoje faço parte de vários eventos internacionais, principalmente na Espanha.
Senhor F - Atualmente, você é um artista gráfico consagrado, mas ainda mantém o lado musical em atividade. Você lidera uma banda de blues, é isso? Como se chama, qual o repertório básico? Faz shows com regularidade?
Lailson - Voltei para a música meio de brincadeira em 91, com uma banda chamada Blusbróders, mas aí começamos a nos apresentar regularmente pela noite e a atrair um público. A Blusbróders mudou para D´Bróders Company e depois formei A Garagem - com a qual comecei a gravar um CD, que não ficou concluído, só quatro músicas foram finalizadas. Em 96, criei a Lailson Blues Band que, além de Pernambuco, já se apresentou em Natal. Aqui no Recife, tocamos em praticamente todas as casas que tinham espaço para o blues. Atualmente existem poucos espaços que aceitem este tipo de música aqui, infelizmente. O repertório é uma releitura de clássicos do Blues com uma abordagem rock’n’roll (o que eu chamo de Heavy Blues), e inclui também várias das minhas composições originais. Em 2002, devido a eu estar muito envolvido com meus projetos de humor e quadrinhos, nos apresentamos pouco. A última apresentação para um público grande foi no Festival de Inverno de Garanhuns, dividindo o palco (nós antes, eles depois) com o Blues Etílicos.
Senhor F - Nos últimos anos, quais artistas brasileiros chamaram a tua atenção? E estrangeiros, alguém em particular te agradou? O que achaste do Manguebit, especialmente de Chico Science?
Lailson - Eu tenho um gosto musical muito datado. Continuo gostando do rock progressivo e do blues clássico, com uma predilação por B.B. King e Eric Clapton. Da cena brasileira, acompanho o Celso Blues Boy, o Blues Etílicos, o Big Joe Manfra, a Clara Ghimmel. Gosto muito do Lenine, do Leo Gandelman, do Lula Queiroga, Paulo Moska. O Manguebeat foi uma coisa muito nova dentro do marasmo em que estava a cena musical do final dos anos 80 em Pernambuco. Eles realmente tinham uma consciência de manifesto, de movimento cultural. Chico era um cara ótimo, tínhamos pouca aproximação mas vários amigos em comum, principalmente Herr Doktor Mabuse. Acho que Chico não percebia exatamente a dimensão que ele adquiriu dentro de todo o processo. Como ele viajou cedo, nunca vamos saber com certeza do que mais ele seria capaz.
Senhor F - Quais teus dez discos preferidos de toda a história do rock, ou da música em geral, se preferir?
Lailson - Aqualung (Jethro Tull); Beggars Banquet (Rolling Stones); I´m Your Man (Leonard Cohen); In The Court of The Crimson King (King Crimson); ELP (primeiro álbum); Selling England By The Pound (Genesis); From The Craddle ( Eric Clapton); Robert Johnson (The Recordings) Blind Faith (Blind Faith) e Premonition (John Fogerty). Tem mais uns trezentos, mas esses dez eu sempre escuto!
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