O MEL DO ROCK

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

MICHAEL KENNEY: O TECLADISTA POR TRÁS DO IRON MAIDEN

Fonte: Keyboard Magazine

A revista “Keyboard” conduziu um interessante entrevista com Michael Kenney, o homem responsável pelos baixos de Steve Harris e, ao vivo, pelos teclados do Iron Maiden – além de ter participações em álbuns também. Na entrevista, Kenney fala sobre influências, Maiden e muito mais.

Confira a entrevista abaixo, na íntegra e em português!

Se você não conhece o nome Michael Kenney, você não está só. Entretanto, se você já viu a lendária banda de Heavy Metal, Iron Maiden, em qualquer show desde o início dos anos 80, você provavelmente já escutou e até viu Kenney, às vezes conhecido como “O Conde”. Ele tem sido o responsável pelos teclados nos álbuns multiplatinados da banda e freqüentemente toca nas turnês mundiais.

A revista “Keyboard” se encontrou com Kenney em São Bernardino, Califórnia, onde eles prestes a encarar uma rebelde platéia Metal. Ele nos contou o que “heavy” costumava significar e o porquê de, definitivamente, tudo se resume a fazer o trabalho, e fazer bem feito.

Como foram suas experiências enquanto estava crescendo?
Comecei tocando trompete aos sete anos, tentando chegar na Califórnia Junior Honor Band, e brincava com o ukulele de meu tio. Ganhei uma guitarra no meu 11º aniversário e no ano seguinte estava numa banda. Aos 13 anos, mudei para o baixo para tocar com o incrível cantor e organista Freddie O’Quinn. Ele tinha um Farfisa (Nota do Tradutor: empresa italiana de eletrônicos, normalmente associada a compactos órgãos eletrônicos e sintetizadores multi-timbres), então aprendi o básico. Então ele comprou um Hammond B-3 com duas caixas Leslie. Eu fui fisgado! A loja de instrumentos musicais local me emprestou, então, o novíssimo Minimoog por uma noite e eu fiquei acordado a noite toda lendo o manual do início ao fim. Para resumir, este foi o meu começo.

Quais bandas te inspiraram a tocar teclado e a curtir Rock?
Freddie costumava deixar a velha radiola ligada com o “lado a” do “Organ Grinder Swing”, de Jimmy Smith, tocando a noite toda. Maravilhoso! Mark Stein com o Vanilla Fudge, Bill Champlin, Stephen Miller no Lynn County, e Lee Michaels tocando seu Hammond com um Leslie ligado em nove amplificadores Acoustic 360. Era um trovão! Eu tive muita sorte em tocar num show local em Sacramento, onde todas as bandas de São Francisco e todos os caras do Fillmore tocaram. Eu pude ver os melhores do começo, e é claro, pude conhecê-los. Steve Winwood foi uma grande inspiração com aquele Hammond em “Gimme Some Lovin’” e nas outras. Ele foi a primeira pessoa que vi tocando tudo sozinho. Eu me considero um homem de utilidades. Com relação a sintetizadores e apenas bons tecladistas, Jan Hammer e David Sancious são importantes para mim.

Quais discos de Rock te influenciou? Qual foi o primeiro disco de uma banda pesada?
Considero Paul Revere and The Raiders a primeira banda pesada que tocava Rock baseado em riffs. Eu acho que é criminoso o “The Kingsmen” receber o crédito por “Louie Louie”, porque pelo que eu saiba é uma música dos Raiders, com a versão do Kingsmen sendo uma imitação sem graça. Foi a primeira música que peguei na guitarra. Claro, quando os Beatles apareceram, o jogo mudou, embora eu tenho passado rapidamente para o que eu achava ser as bandas mais pesadas. Eu era um grande fã dos Stones, particularmente Brian Jones, que para mim é o conceito original de multi-instrumentista, aparentemente tocando qualquer coisa que caísse em suas mãos, e com um senso de visual muito legal. Ele foi meu herói por um tempo. Não posso deixar de mencionar os Animals, Hollies, Kinks… Tanta coisa boa. Então eu escutei Jeff Beck com os Yardbirds e minha vida mudou. Eu escutei a todas as bandas dos anos 60 e 70 que tinham um Hammond: Vanilla Fudge, Deep Purple, Procol Harum (não só “Whiter Shade of Pale”, mas outros materiais mais dramáticos), The Rascals, Small Faces… Me interessava particularmente por guitarristas que tocavam órgão, como Stephen Stills, Joe Walsh e Mark Fenner. O primeiro álbum de Jan Hammer e Jerry Goodman, “Like Children”, foi uma revelação para mim. Eu tinha que ter um minimoog após ouví-lo. Eu o tocava com um instrumento de baixo numa banda que participei. Os dois primeiros álbuns de David Sancious – “Forest of Feelings” e “Transformation” – e sua participação no “Garden of lovelight”, de Narada Michael Walden, é impressionante!

Quais teclados você tinha enquanto estava crescendo? Qual o primeiro teclado que você comprou?
Nós tínhamos um velho piano vertical na sala quando eu era adolescente. Uma tia me deu um órgão Lowrey com uma pequena caixa Leslie e eu tive minha primeira e única banda orientada para o teclado, compondo minhas canções. O Minimoog foi meu primeiro sintetizador, então comprei meu primeiro Hammond, um modelo A 1936. Ainda o tenho. É uma ótima máquina. Então fui passando para os sintetizadores Korg ao longo dos anos, do Polysix pra frente. Ainda os uso. Tenho seis Hammond agora. Nem todos são Hammond B3. Finalmente comprei um B3 apropriado, para poder dizer, “sim, eu tenho um B3!”, junto com um A, um BC, um CV, um D e um X77.

Qual sua histórico de gravações com o Iron Maiden?
Como músico, o Maiden foi minha primeira e única situação de gravar com uma banda grande. Steve Harris sabe bem o que quer, então era apenas meu trabalho tocar. Toquei em alguns álbuns – “No Prayer for The Dying”, “Fear of The Dark”, “X Factor”, e alguma coisa no “Virtual XI. Ao longo do tempo, Steve foi ficando mais confortável com as teclas e passou a tocar na maioria das vezes. Eu ainda fico por perto para ajudar e sou o responsável por tudo ao vivo.

Você também é o técnico de baixo de Steve Harris.
Este é meu trabalho principal. No “Somewhere in Time” eles passaram a usar guitarras e baixos sintetizados, e eu ajudei na programação. No “Seventh Son…” eles usaram teclados sintetizados e alguns brinquedos de estúdio, e precisaram que alguém os tocasse ao vivo. Como eu tinha experiência com teclados e o equipamento de Steve precisa de pouquíssima manutenção durante os shows, ele me convidou a fazer, mas só se fosse como “O Conde” (Nota do Tradutor: Tradução para “The Count”), meu apelido na época, por causa de minha vida noturna, sobretudo preto e meus cálices de conhaque. Após aquela turnê, na qual eu tocava fantasiado num elevadiço a 20 pés de altura, deixei os trajes do Conde e passei a tocar atrás do palco. Nas canções dos álbuns mais recentes, pode haver muito teclado; quando fazemos material antigo, não há muito o que fazer. O equipamento de baixo, na verdade, tem prioridade sobre os teclados: se algo está errado, eu tomo conta, mesmo que isto signifique não tocar o teclado. O equipamento é bem fácil de lidar. Eu deixo peças sobressalentes já prontas, então qualquer mudança pode ser feita rapidamente e eu não tenho que perder muitas partes no teclado.

O Iron Maiden teve algum tecladista ou tecladistas em seus discos antes de você?
Não nos discos. Eles tiveram um ao vivo por um tempo no início da banda, Tony Moore. Algumas das coisas mais elaboradas nos recentes álbuns têm sido terceirizadas para um amigo do produtor Kevin Shirley, chamado Jeff Bova, que faz um trabalho incrível em criar as visões das orquestras de Steve. É um trabalho interessante traduzir isto para algo que eu possa tocar ao vivo, em tempo real, com duas mãos.

Como você aborda a adição de teclados em canções que não tinham o instrumento no disco? A banda te dá instruções específicas ou você basicamente toca o que quer?
Só adiciono teclados em canções que originalmente não têm, quando me pedem. Bruce quis um tratamento de coral para simular algo que ele fez no estúdio em “Powerslave”. Steve vem com uma idéia de vez em quando, e muitas das partes de sintetizadores são para reforçar as guitarras sintetizadas que Adrian usou. Na verdade, estas são as mais divertidas para mim, porque às vezes ele toca a parte para mim e eu crio o que acha que funciona melhor. Estou tendo mais liberdade com relação a trabalhar no material novo para fazer ao vivo.

Como você escolhe os teclados na sua configuração atual de palco? Como eles têm se saído e como você os modificou ou modifico seus sons?
Sempre fui um cara da Korg. Uso o material deles há muito tempo, antes porque eles eram muito mais acessíveis do que as “grandes marcas”, mas agora eu apenas acho que eles soam ótimo e estou confortável com a forma como eles que fazem as coisas. O O1w se estabeleceu como meu sintetizador principal. Há certos sons nele que nós consideramos ser marcas registradas do Maiden. Steve chama estes sons por nome. Não acho que eu esteja fazendo nada de especial com eles, apenas ajustando para que sejam apropriados para o que precisamos. Eu tenho um encaixe de Hammond no O1 no qual me deixa particularmente orgulhoso, mas só tive a oportunidade de usá-lo uma vez, em “Afraid To Shoot Strangers”, do álbum “Fear of The Dark”. Ao longo do tempo, nós o trocamos por novos modelos. Também uso um Triton Extreme. Os sintetizadores mais novos têm maior taxa de bits e mais fidelidade, o que é ótimo para sutís orquestrações, mas eu ainda gosto da gordura do material “old school”.

Quais conselhos você daria para os leitores – tanto musicalmente quanto para a carreira – que desejam desenvolver seus talentos e se tornarem tecladistas bem sucedidos?
Há tanta informação, e o nível é muito alto. Quer dizer, há garotos por aí que estão a anos luz de qualquer coisa que eu sequer tenha concebido ser possível. Mas não há como substituir o trabalho árduo para atingir um grande conhecimento. Não há shows em seu quarto e a maioria das pessoas não se importam com o quão rápido você toca. Música para mim é sentimento e como você pode fazer os outros sentirem, e a nota certa tocada da forma certa pode falar mais lato do que uma agitação de esplendor trimodal.

Qual foi a pior coisa que já aconteceu numa turnê e como você lidou com isto?
Na época do “Seventh Son…” eu usava um set de samples de coral Emulator 3 para o meio da canção título do álbum. Numa tarde antes do show, eu o liguei e o display começou a mostrar algum tipo de hieróglifo. Fazer a manutenção de um E3 ou até substituí-lo em poucas horas, em Iowa, é improvável, então peguei o telefone e encontrei um centro de guitarras em Chicago. Eles correram para o aeroporto e enviaram o E3 rapidamente. Ele chegou durante o show e eu tive que carregar um disquete em rapidamente. Incrivelmente, foi literalmente em cima do tempo, e tudo saiu como deveria. Eu acho que provavelmente danifiquei alguns neurônios no processo. Eu aprecio o fato de que nem todo mundo está na posição de gastar tanto dinheiro para resolver um problema, e a E-mu (N.T.: empresa que desenvolve produtos de áudio) veio ao resgate bem rápido.

Na mesma época, no já anteriormente mencionado elevadiço de 20 pés de altura, que era basicamente uma empilhadeira suportando o peso máximo, eu achei que era melhor eu ficar no meio para preservar seu centro de gravidade. Numa noite estava me sentindo mais confortável e dei um passo para a direita, e a coisa toda oscilou alguns centímetros. Eu tinha teclados nos meus dois lados, e a próxima coisa que toquei foi um som bem alto, um acorde bem Jazz (N.T.: Kenney quer dizer que foi um som bem dissonante). Tive que checar minhas calças depois desta!

Além deste tipo de coisa, em algumas ocasiões, o rigor das turnês cobrará seu preço num sintetizador, mas é para isto que temos peças sobressalentes, e felizmente eu trabalho com uma grande equipe que já me ajudou a trocar um teclado durante uma canção.

Você tem algum conselho para sobreviver a turnês?
A coisa mais importante é se dar bem com as pessoas com quem você trabalha. Todos somos competentes no que fazemos ou não estaríamos aqui. O aspecto pessoal é muito importante. Eu sei que é um clichê, mas no nosso caso é como ser casado com 50 pessoas. É um estilo de vida e uma grande parte do trabalho. Eu escolhi não beber nesta última turnê, o que pode tirar um pouco da diversão, mas não estar de ressaco ajuda muito.

Como é o relacionamento pessoal e profissional entre você e a banda?
Nos damos muito bem. For a dos estúdios, não os encontro muito, exceto quando eles estão no palco. Nestas turnês com o avião, temos ficado no mesmo hotel muitas vezes, então sem dúvidas nos batemos no bar do hotel ou no pub irlandês mais próximo. Claro, eles são as estrelas, e há questões de segurança e protocolos com que lidar, mas normalmente somos apenas um grupo de caras numa jornada em comum, cada um com seu trabalho para fazer.

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